PRÓXIMO 1 DE ABRIL: Manifestação Europeia pelo Direito à Habitação

As medidas anunciadas pelo Governo não nos convencem. Contra a loucura das rendas e a falta de acesso à habitação, vamos lutar até que toda a gente tenha Casa Para Viver!

No contexto da explosão dos preços das rendas e do crédito, do aumento drástico do custo de vida, da alimentação, das contas de energia, da pobreza e da precariedade, as nossas vidas foram atiradas para uma crise permanente. Não conseguimos pagar as nossas rendas ou suportar os nossos empréstimos bancários. Quem pode morar nas cidades portuguesas, hoje? As rendas em Portugal aumentaram 40% nos últimos cinco anos. Os preços das casas subiram 19% desde o ano passado. Os bancos, que penhoram as nossas casas, duplicaram os seus lucros. Enquanto isto, seguem-se os despejos e as expulsões das nossas casas para longe das nossas comunidades, ao mesmo tempo que florescem os negócios em torno do turismo, do alojamento local e da especulação.

Nós, que dependemos do nosso trabalho para viver, não conseguimos pagar as nossas rendas. Somos populações migrantes, negras e da comunidade cigana, que sofremos racismo e discriminação de forma histórica e sistemática e encontramos ainda mais dificuldade em arrendar casa. Somos jovens que não conseguimos sair de casa dos pais ou a ela temos de voltar. Somos estudantes que temos de deixar de estudar porque os quartos se tornaram impossíveis de pagar. Somos pessoas idosas que se veem obrigadas a abandonar casas e bairros onde vivemos uma vida inteira. Somos mulheres, com rendimentos baixos que corremos maior risco de situações de violência por falta de alternativa de habitação, e quando sozinhas com crianças e rendimentos baixos não temos onde morar e nos sujeitamos à sobrelotação ou tivemos de ocupar. Somos pessoas que sofrem discriminação no mercado de arrendamento pelos mais variados motivos, seja pela nossa identidade de género, pela nossa orientação sexual, por fazermos trabalho sexual, por usarmos substâncias psicoativas ou pela nossa condição física ou mental. Somos gente em precárias condições de vida, somos pessoas que habitamos os bairros, e muitas vezes temos de escolher entre pagar a renda ou pôr comida na mesa. Somos pessoas que já sofremos despejos ou vimos a demolição das nossas casas. Somos pessoas em precárias condições de saúde física e mental, as quais são agravadas por vivermos em sobrelotação, em casas degradadas ou sem condições mínimas de acessibilidade, em abrigos, em constante ameaça de despejo ou nas ruas.

O negócio imobiliário e o governo defendem o aumento da construção como solução para o problema da habitação. É falso! A história mostra que não é o aumento da oferta privada e da construção – que contribui para a emissão de gases com efeito de estufa – que vai baixar os preços. Eis a realidade portuguesa em 2023: ao mesmo tempo que existem 730 mil casas vazias no país, há 2 milhões de pessoas em situação de pobreza e mais de 50% da população em risco de miséria. A desigualdade social no acesso à habitação e a degradação das condições de vida não são inevitáveis leis da natureza. São o resultado de vivermos num sistema capitalista que tem como objetivo a maximização do lucro em vez de procurar garantir as necessidades básicas a todas as pessoas e, por isso, trata a habitação como um negócio e não como um direito básico. Neste sistema político e económico têm-se seguido anos e anos de desinvestimento público na habitação, juntamente com outras políticas concretas de quem nos governa: políticas como os ‘vistos gold’, os ‘residentes não permanentes’, ‘as medidas de atração dos nómadas digitais’, as isenções fiscais ao investimento imobiliário e à construção e reabilitação urbana de luxo, o controlo privado e não democrático do planeamento urbano e a diminuição do poder das e dos inquilinos com a liberalização através das rendas não controladas, a indiferença sobre os milhares de casas vazias existentes nas nossas cidades. Em suma, um problema de ausência de redistribuição e de justiça social.

Por tudo isto nos manifestamos em Portugal no dia 1 de Abril de 2023. Integramo-nos nos Housing Action Days 2023, uma semana de ações e manifestações por toda a Europa pelo direito à habitação, coordenados pela European Action Coalition for the Right to Housing and the City.

Saímos à rua por:

  1. DIREITO À HABITAÇÃO:

Significa casa digna para todas as pessoas. Queremos que parem os despejos sem alternativa digna e adequada. Queremos que parem as demolições das nossas casas. Queremos o fim da criminalização das pessoas que ocupam ou que resistem aos despejos. Queremos o aumento da habitação pública, social e cooperativa de qualidade que não implique nova construção sem fim! Queremos o controlo do mercado imobiliário e que se baixem as rendas já! Exigimos que o valor das rendas seja indexado aos rendimentos dos agregados familiares, nunca excedendo os 20%. Queremos o abaixamento e congelamento de juros e lucros dos bancos e impedimento de retirada de habitação de família pelos bancos e instituições financeiras. Queremos o fim real dos vistos gold, do estatuto do residente não habitual, dos incentivos para nómadas digitais e o fim às isenções fiscais para o imobiliário de luxo e para as empresas e fundos de investimento. Queremos a coletivização das casas vazias das empresas imobiliárias, fundos de investimento e grandes proprietários. Queremos o fim dos apartamentos turísticos, as casas são para habitar!

  1. DIREITO À CIDADE:

Significa o fim da privatização dos espaços públicos, o ordenamento democrático do território urbano e rural de acordo com as necessidades das e dos habitantes e do meio ambiente, o fim da guetização das pessoas mais marginalizadas e o seu pleno acesso aos centros urbanos, o fim da turistificação e da submissão da cidade ao mercado. Exigimos transportes públicos de qualidade, tempo e acesso à cultura, espaços verdes e sociais de qualidade. Exigimos compromissos sérios para combater os impactos das mudanças climáticas.

  1. FIM DA EXPLORAÇÃO E DO AUMENTO DO CUSTO DE VIDA:

Significa a fixação pelo Estado dos preços dos bens e serviços essenciais bem como a gestão coletiva e democrática dos setores essenciais, como a energia, a água, transportes públicos, comunicações e a própria habitação. Fim dos cortes de eletricidade. Aquecimento adequado, energia sustentável e conforto nas nossas casas. Fim da precariedade, dos baixos salários, das pensões de miséria, da degradação do Serviço Nacional de Saúde e do trabalho escravo e sem direitos!

Lisboa e Porto já se juntaram à manifestação Europeia. Organiza-te também na tua cidade!

Lisboa: 1 de Abril, 15h, Alameda

Porto: 1 de Abril, 15h, Batalha

Organizações subscritoras

A Coletiva | APPA – Associação do Património e da População de Alfama | Associação de Moradores das Vilas Operárias do Beato | Associação Olho Vivo | c.e.m.- centro em movimento | Associação ComuniDária | Associação MOLA | Associação de Inquilinos Lisbonenses – AIL | Associação MOLA | Canto do Curió Associação Cultural | Casa É Um Direito | CENEA-Circuito Explosivo Núcleo de Expressão Artística | Chão das Lutas | CIDAC | Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa Lutas | Climáximo | Colectivo de Solidariedade Mumia Abu Jamal | Colectivo Marxista | Coletivo Mulheres Negras Escurecidas | Coletivo Aldrava | Colombina Clandestina | Consciência Negra | Cooperativa Mula | Convergência | CIVITAS Braga | GRUPO EducAR — Plataforma de Educadores Antirracistas | Comité de Solidariedade com a Palestina | É hora de agir | Fazer do Bairro a Nossa Casa | FEMAFRO – Associação de Mulheres Negras, Africanas e Afrodescendentes em Portugal | Feministas Em Movimento | GAIA | Guimarães LGBTQIAmais | Habita! | HabitAção Barreiro | Habitação Hoje | Habitat Açores | Headbangers Antifascistas | HuBB – Humans Before Borders | Iniciativa Cigana | Iniciativa dos Comuns | ICE—Instituto das Comunidades Educativas | Jornal MAPA | Livraria das Insurgentes | Manas | Marcha Mundial de Mulheres | Morar em Lisboa | Movimento Anti-Racista | Movimento Referendo pela Habitação | Movimento Virgínia Moura | Núcleo Feminista de Évora | Núcleo Antifascista de Guimarães | Panteras Rosa | Ocupa Arroio | Petição pela Proteção do Direito à Habitação | Rede 8 de Março – Greve Feminista Internacional (Assinatura nacional, 14 Cidades) | República Marias do Loureiro | Sirigaita | SOS Racismo | Solidariedade Imigrante – Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes | Solidários: Trabalhadores Atacados Não Podem Ficar Isolados | Stop Despejos | UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta | Vida Justa | Vizinhos de Arroios – Associação de Moradores | Vozes de Dentro | Zona Franca dos Anjos | Chaves Comunitária

Carta aberta contra desalojamentos em 2º Torrão, Almada

Salva-se abrigo nos escombros de ser demolido

Na manhã desta segunda feira, 13, a Câmara de Almada, presidida por Inês de Medeiros (PS), deu seguimento às demolições de casas no bairro do 2° Torrão. O processo que persiste de forma violenta e desorganizada já dura 135 dias. Uma casa cuja família foi realojada foi demolida.
O Sr. Sebastião voltou a ficar sem abrigo, em Outubro, quando a Câmara Municipal de Almada demoliu o quarto em que vivia na zona da vala no 2° Torrão. Actualmente, ele encontrou abrigo nos escombros de uma casa que estava parcialmente demolida.
Na manhã desta segunda-feira, a Câmara planeava demolir a casa ao lado desse escombro onde ele está a viver. A comunidade em solidariedade acompanhou a demolição para apoiá-lo na luta por realojamento, para que as máquinas não avançassem com as demolições nas casas em torno e que não fossem cometidos abusos de autoridade, como viveram no passado.
O tecto provisório onde Sebastião está a dormir não é solução habitacional, mas é melhor do que estar na rua. As máquinas demoliram a casa da sua vizinha, mas o seu abrigo precário foi salvo e defendido nessa manhã pela comunidade solidária, que se opôs à demolição até que Sebastião tenha pelo menos uma alternativa emergencial. A Câmara recusou discriminatoriamente a Sebastião a alternativa emergencial mínima em que agora sobrevivem as famílias que habitavam na vala e cujas casas foram demolidas.

Entenda esta intervenção selvagem

Sobre uma vala subterrânea de escoamento de águas da chuva, no bairro do 2.º Torrão, estavam construídas 83 casas. Destas, 73 foram efetivamente demolidas em seis dias pela Câmara Municipal de Almada por um alegado risco de colapso da vala. A Câmara iniciou as demolições sem ter soluções habitacionais permanentes para a grande parte das famílias. Os agregados foram encaminhados para soluções emergenciais precárias: quartos sobrelotados em hostels, com restrição do uso da casa de banho, sem equipamentos de cozinha e bens essenciais. Outros foram realojados fora do concelho de Almada e estão a enfrentar muitas dificuldades.

Quando começaram as demolições, 18 agregados familiares haviam sido totalmente excluídos do realojamento. Destes, 13 interpuseram providências cautelares em tribunal que adiaram a demolição das suas casas. Entre os moradores que recorreram à ação judicial, 4 estiveram em unidades hoteleiras, 8 permaneceram em suas casas no bairro e um foi desalojado sem nenhuma alternativa, nem de emergência. A resistência que ficou a viver nos escombros é hoje constituída por 8 famílias que entraram na justiça, a que se somam outras duas famílias que não saíam sem chave na mão e o Sr. Sebastião. No total, 10 agregados familiares resistiram, organizaram-se e permanecem em luta até que todos sejam realojados.

Ninguém fica para trás!

A luta agora é para que não fique a viver na rua o Sr. Sebastião, mas também outras pessoas doentes, incluindo uma em tratamento oncológico, idosos e crianças. Nesta luta, estas famílias foram obrigadas a ter suas vidas interrompidas para tratarem de todos os documentos exigidos, perderam trabalho e ganharam problemas de saúde. No fim desta jornada, três famílias estão em maior vulnerabilidade e em risco de ficarem sem tecto.
A Câmara Municipal de Almada no primeiro dia de demolições admitiu ali mesmo ter “descoberto” 6 famílias. Com critérios pouco claros e arbitrários pelo menos 8 agregados familiares não foram reconhecidos como pertencentes ao bairro. Após pressão, das 13 famílias que estiveram a lutar na justiça, sabemos que:

7 foram parcialmente incluídas no Porta de Entrada, programa do Estado de resposta a emergência, e deverão ter alguma alternativa habitacional atribuída, mas inadequada ao tamanho do seu agregado familiar.
Uma teve acesso a casa camarária,
3 famílias foram totalmente excluídas dos programas de realojamento,
Uma família continua a aguardar resposta da Câmara.

A qualquer momento, a Câmara pode avançar com as demolições. Os moradores das casas no entorno, que não tem mais proteção jurídica, pois as medidas cautelares caíram, temem que suas casas possam vir a ser demolidas.

Exigimos que TODXS xs moradorxs afectadxs pelas demolições das suas casas façam parte do programa de realojamento! Sem chave ninguém sai!

SEGUNDOTORRÃO120DIAS
#REALOJAMENTOPARATODOSJÁ
#SEMCHAVENÃOSAIO
#HABITAÇÃOÉUMDIREITO
#SEMCHAVENINGUÉMSAI
#NINGUÉMFICAPARATRÁS
#JUNTOSCOMO2TORRÃO

Trafaria, 15 de Fevereiro de 2023,

Canto do Curió Associação Cultural
Habita
Stop Despejos