Estás prestes a viajar a um pequeno paraíso escondido. E como todos os paraísos, o problema é chegar até lá!
A Aldeia de Covas do Barroso fica no concelho de Boticas, a aproximadamente 450km de Lisboa e 140km do Porto.
Boleias
A forma mais cómoda de chegar a Covas do Barroso é de carro, mas para tirar o melhor partido deste meio de transporte poluente, criámos este “documento vivo” onde podes anunciar a tua viagem, aqui.
Às 18h30 partida de Chaves > Às 20h chegada a Covas do Barroso Às 6h45 partida de Covas do Barroso > Às 8h18 chegada a Chaves Horários retirados do site do CIMAT, clique aqui.
Número de telefone da estação de autocarros de chaves: 276 332 351
Soam as enxadas da resistência. O Barroso está de pé, em luta!
Vimos convidar-vos para a terceira edição do Acampamento em Defesa do Barroso.
Desde o verão passado, a resistência contra os planos de mineração manteve-se ativa: muitas lutas se levantaram e muitas alianças se teceram. Este verão, queremos voltar a unir forças e a partilhar estratégias de resistência aos interesses económicos e políticos que pretendem destruir as montanhas pela promessa de lucro fácil.
Entre os dias 10 e 15 de Agosto de 2023, as portas da Quinta do Cruzeiro voltam a abrir-se. Como as águas que fluem nos canais, este ano também queremos inundar as ruas das aldeias com a nossa alegria, energia e vivacidade. Serão cinco dias de partilha com as serras, as águas, os montes e com a vida que queremos proteger.
No Barroso, há cinco anos que lutamos contra a maior mina de lítio a céu aberto da Europa. Este ano, o governo aprovou o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) deste projeto mineiro. Embora esta decisão represente um passo burocrático importante para a empresa, esta continua sem ter direito de acesso aos terrenos nem legitimidade social para avançar com o projeto. Nós, os e as guardiãs do território, não aceitaremos que os de lá de cima venham ditar as suas regras injustas. Agora é o momento de nos unirmos para travar este ecocídio, que representa um ataque ao modo de vida rural.
O governo aprovou o EIA (Estudo de Impacte Ambiental), apesar de reconhecer impactos negativos significativos para as populações, a biodiversidade das serras e a qualidade das águas. Fê-lo, impondo uma narrativa sobre a inevitabilidade da extração do lítio. Esta narrativa — que pinta a mineração de verde e apresenta-a como solução única para a descarbonização — é uma narrativa falaciosa. Na realidade, aquilo que a União Europeia e os governos querem fazer — primeiro no Barroso, e depois em muitos outros territórios — é assegurar uma descarbonização que não ponha em risco os interesses da indústria automóvel e não coloque em causa o crescimento económico infinito. A promessa de lucro para alguns, e de cidades menos carbonizadas, esconde o sacrifício de territórios inteiros e a continuação da violência associada a uma política de mobilidade assente no transporte individual.
No Barroso, ninguém nos obriga a dizer que o cinzento é verde, que as minas são sustentáveis, ou que as empresas de mineração são os anjos do desenvolvimento. Ninguém nos obriga a entregar as serras, os rios, e a história de que somos guardiãs. É aqui, onde querem destruir o mundo verde do Barroso para salvar o mundo do crescimento infinito, que queremos confrontar e desconstruir a ideia de que a transição energética tem de passar pelo extrativismo desenfreado, pela transformação da rede da vida em recursos a esgotar, pela despossessão dos territórios rurais e pela procura incessante de lucros.
Aqueles que querem que o projeto avance tratam de convencer-nos que esta decisão do governo de aprovar o Estudo de Impacto ambiental marca o fim de uma luta. Mas nós sabemos que a guerra começa agora.
O Barroso não se calará perante a violência extrativista e as gentes barrosãs não aceitarão a licitação dos seus territórios às mineradoras. O Barroso é — e será — a linha da frente onde travaremos a destruição da vida em nome da sede de lucro.
Esta luta local é um eco da resistência global. Se, perante os “objetivos estratégicos europeus”, conseguirmos travar aquela que seria a maior mina de lítio da Europa, abriremos precedentes de luta decisivos para o futuro. Sabemos disto, da mesma forma que as multinacionais e os governos o sabem. É por isso que esta luta é tão central. E é por isso que lutamos.
No Acampamento, teremos não só atividades para informar e sensibilizar, mas também para fortalecer a nossa rede de resistência. Queremos muito contar-vos a nossa história, apresentar-vos as nossas gentes e mostrar-vos o imenso património histórico e natural que herdámos — e que lutamos para proteger.
Sentimos um grito de revolta a pairar no território: o nosso e o vosso. A hora de lutar é agora. Como canta o nosso apicultor, Junta-te à luta, vamos vencer. Esta é a hora, não há tempo a perder!
Reportagem: Silvestre A Feminist No Borders Summer School proporciona um espaço de encontro, aprendizagem mútua e de inspiração para investigadoras, ativistas, artistas e membras de organizações comunitárias para partilharem experiências, estratégias e lutas entre e contra as fronteiras....
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O mundo está pegando fogo. A crise climática está piorando e, em vez de máscaras contra a Covid-19, as pessoas agora precisam usar máscaras contra a fumaça dos incêndios florestais. Ao mesmo tempo, grandes áreas são inundadas devido às fortes chuvas causadas pela poluição ambiental contínua. Nada disso se deve às escolhas individuais das pessoas. Não se deve ao fato de comprar o produto errado no supermercado, mas é causado pela exploração sistemática da natureza e da humanidade. São os governos e as grandes corporações que estão nos conduzindo a uma catástrofe climática que, no momento, parece imparável.
Os governos e as grandes corporações criaram um mundo no qual os ricos são mais importantes do que os demais. Isso ficou especialmente visível quando a mídia mundial não tinha nada melhor para fazer do que falar por cinco dias sobre um submarino desaparecido cheio de cinco pessoas ricas, enquanto centenas de outras pessoas morriam no Mar Mediterrâneo na tentativa de obter melhores oportunidades para suas vidas.
As políticas de extrema direita, conservadoras e autoritárias estão em ascensão em todo o mundo. Alguns as utilizam para iniciar guerras e matar milhares de pessoas, outros para construir cercas e policiar o que acreditam ser sua propriedade, e outros para se armar no mundo digital. A vigilância está aumentando e os Estados estão cada vez mais se intrometendo em nossos espaços privados, analisando nossas conversas particulares e coletando dados sobre nós com uma profundidade e detalhes que jamais poderíamos imaginar. As ferramentas dos Estados para esmagar a resistência, até mesmo a própria ideia de lutar contra o sistema, estão sendo aprimoradas a cada minuto. Muitos anarquistas, antiautoritários, ativistas ambientais e antifascistas em todo o mundo enfrentam repressão porque agir anonimamente em um mundo digitalizado está mais difícil do que nunca.
Com todos os obstáculos que se interpõem em nosso caminho na luta por um mundo melhor, as ideias e os valores anarquistas continuam sendo importantes. Em tempos de crise, os métodos de organização coletiva, ajuda mútua e o princípio de solidariedade começam a brilhar. O sistema entrará em colapso e devemos nos preparar para retomar um mundo que nos foi roubado por corporações, proprietários de iates e pela indústria bélica. Um mundo que foi feito para todos. E enquanto nossos amigos são colocados atrás das grades e os Estados tentam escondê-los nos cantos mais escuros de suas prisões, não ficaremos parados, mas lutaremos até que eles sejam livres novamente.
Vamos derrubar os muros juntos!
É por isso que convocamos novamente a Semana Internacional de Solidariedade com os Prisioneiros Anarquistas. Faça alguma ação de solidariedade! Escreva cartas, organize discursos ou exibições de filmes, torne nossos companheiros visíveis nas ruas com uma faixa ou grafite e deixe-os ver que estão em nossos corações e que lutamos juntos.
Vamos nos lembrar daqueles que lutaram contra essa injustiça e pagaram com suas vidas.
Novas mobilizações contra Dina Boluarte e o Congresso estão anunciadas para o final de julho. Num clima de tensão e de denúncias de abusos policiais, organizações e cidadãos preparam-se para novas jornadas de protesto para exigir justiça e respeito pelos direitos humanos.
As ruas de Lima e de várias regiões do país preparam-se para ser palco de novas mobilizações cidadãs. A Coordenação Nacional de Luta confirmou a realização de uma marcha nacional para os dias 27, 28 e 29 de julho, em repúdio da administração de Dina Boluarte e das acções do Congresso. Esta convocatória surge num contexto de crescente descontentamento social, marcado por denúncias de abusos policiais e exigências de justiça para as vítimas da repressão.
De acordo com informações recentes, os protestos antigovernamentais causaram a morte de cerca de 50 pessoas e centenas de feridos, incluindo civis e membros da Polícia Nacional do Peru (PNP). Organizações de defesa dos direitos humanos, como o Comité Nacional de Coordenação dos Direitos Humanos (Cnddhh), denunciaram o uso excessivo da força, a utilização de bombas de gás lacrimogéneo fora de validade e a detenção arbitrária de manifestantes.
A impunidade e a falta de respostas claras por parte das autoridades têm exacerbado o descontentamento da população. As recentes mobilizações demonstraram a exigência da população de pleno respeito pelos direitos humanos e a necessidade de justiça para as vítimas da violência do Estado.
Os meios de comunicação social internacionais CNN en Español cobriram a situação no Peru, destacando as tensões políticas e sociais no país. As próximas manifestações, que coincidem com as celebrações das Fiestas Patrias, prometem ser um termómetro da agitação dos cidadãos e um sinal da determinação da sociedade civil em fazer valer os seus direitos.
Espera-se que as novas jornadas de protesto levem milhares de pessoas às ruas, não só em Lima, mas também em várias regiões do país. As autoridades e os organizadores apelam ao exercício pacífico do direito de protesto e ao respeito mútuo, a fim de evitar novos confrontos e eventuais perdas de vidas humanas.
Durante a Marcha Nacional #19J, as pessoas que faziam um Tapete Vermelho nos degraus do Palácio da Justiça foram atacadas por membros do grupo violento chamado La Resistencia*. A Polícia Nacional do Peru permitiu o abuso e, em vez de parar o ataque, a desordem pública e o assédio, censurou o Tapete Vermelho silencioso.
Os Tapetes Vermelhos são intervenções artísticas e activistas pacíficas no espaço público que visam tornar visíveis as várias formas de violência de género e o caminho sombrio para a justiça. O primeiro Tapete Vermelho teve lugar a 23 de junho de 2013 em Lima e, desde então, centenas deles foram realizados em diferentes regiões do Peru e em diferentes países do mundo, como Chile, Inglaterra, Suíça, Bolívia, Equador, Espanha, Estados Unidos, Austrália, Guatemala, entre outros.
Em toda a história local dos Tapetes Vermelhos, houve apenas dois momentos em que isso foi violado. A primeira vez foi em 2015, quando as companheiras do Sitramun realizaram uma Alfombra para defender os direitos laborais das mulheres, as políticas públicas para a igualdade de género e uma vida livre de violência, o Departamento de Mulheres, bem como os serviços de Warmi Wasi e Oye Varón prestados com foco nos direitos e género, que o regime de Castañeda estava a tentar desmantelar. Foram reprimidos com Rochabus pela Polícia Nacional do Peru. Os participantes resistiram corajosamente ao ataque com a força da causa que estavam a defender.
A segunda vez foi no dia 19 de julho, às 16h30, enquanto decorria a Passadeira Vermelha pacífica, apartidária e não cidadã, nos degraus do Palácio da Justiça. Os membros de La Resistencia começaram a gritar, a puxar, a insultar e a difamar os participantes. A PNP começou a ordenar às pessoas que estavam deitadas em silêncio nas escadas que se levantassem. A Alfombra foi um ato cultural e simbólico que comemorou a memória dos mais de 80 feminicídios ocorridos até agora em 2023 e das 49 pessoas assassinadas no país durante os últimos meses, pelo que os seus participantes pediram paz e justiça.
Queremos deixar claro os factos graves, a violação do protesto pacífico e o facto de que, em flagrante delito, a PNP não cumpriu o seu dever.
Foto: Renzo Villar Redação: Alessandra Rodríguez
*Este grupo radical é mais conhecido como “La Pestilencia”.
AS VEIAS ABERTAS: O POVO PROTESTA, A POLÍCIA REPRIME
Milhares de peruanos manifestaram-se nas ruas do centro da cidade na chamada “Terceira Tomada de Lima”. Centenas deles foram reprimidos pela polícia em torno da Plaza San Martin. Houve gás lacrimogéneo, espancamentos e detenções brutais.
Os manifestantes voltaram a exigir a demissão da controversa presidente Dina Boluarte e a realização de eleições antecipadas. O protesto de ontem à noite foi o segundo desta semana e o segundo em cinco meses.
Pelo menos três manifestantes foram detidos, segundo o Gabinete do Provedor de Justiça e organizações de defesa dos direitos humanos. O Comité Nacional de Coordenação dos Direitos Humanos classificou a “repressão injustificada” das forças do Estado contra o povo como “repressão injustificada”.
Foram convocadas novas manifestações para 27, 28 e 29 de julho.
A Periodico Libertária lançou algumas notas no dia 19
Pouco a pouco, o destrutivo nacionalismo peruano, que graças à sua ficção de “unidade” pretendeu representar as maiorias para impor um sistema explorador e discriminatório, está a ser descartado. No entanto, as ruas da rebelde Puno dão-nos uma lição de solidariedade e cantam: “QUECHUAS e AYMARAS lutam sempre juntes”. Assim, as querelas exacerbadas pelo extrativismo sangrento e pela politicagem vão ficando para trás, e uma verdadeira coragem para enfrentar as autoridades vai-se impondo. Desta forma, estes combatentes estão a revelar a sua realidade étnica nos rostos de Lima e procuram purificar as águas turvas e sujas do Rimac da capital.
É a tarefa do anarquismo mostrar solidariedade e acompanhar estas mobilizações anti-autoritárias com acções directas. É tarefa do anarquismo propagar e lutar pela ANARQUIA. Mas não é tarefa do anarquismo ser cheio de arrogância e endossar um paternalismo racista.
A palavra de ordem e a ação são claras: QUECHUAS E AYMARAS LUTAM SEMPRE UNIDOS”. Talvez este seja o primeiro passo para nos unirmos sem bandeiras ou hinos… ou a primeira aproximação com outras etnias em busca de acabar com o regime ASSASSINO e seu principal patrocinador: o capitalismo biocida. Sem poses e com muita humildade!
Também, a poucas horas da Tomada de Lima, partilhamos uma série de slides que temos vindo a fazer no meio das mobilizações. O tema é o autocuidado, tanto digital como em acções directas. O nosso objetivo é salvaguardar o maior número de vidas possível, e sabemos que o acima exposto é pouco comparado com a capacidade transformadora da repressão estatal… no entanto, tendo em conta a ideologia dos cidadãos (onde se assume que a tombería respeitará os direitos humanos) estes poucos conselhos podem salvar-nos de situações extremas. Saúde e Anarquia.
6 Um novo momento na crise política: tentativa de golpe e contragolpe institucional.
Como antecedente imediato dos eventos de 7 de dezembro, é importante mencionar a apresentação de uma nova moção de vacância impulsionada pelo congressista independente Edward Málaga (ex-membro do Partido Morado).
Málaga havia iniciado o trâmite da moção em 29 de novembro. Esta se baseava em quatro argumentos principais: • O desmantelamento irresponsável da administração pública e a ocupação clientelista das instituições do Estado. • Vínculos cada vez mais evidentes com graves atos de corrupção, incompatíveis com o exercício da presidência da República. • Graves faltas éticas que atentam contra a dignidade da figura presidencial. • Violação dos princípios de separação e equilíbrio de poderes ao corromper o Poder Legislativo.
A moção foi rapidamente admitida para debate com 73 votos a favor, 32 contra e 6 abstenções. Fazia parte da agenda do plenário de 7 de dezembro. Até a noite de 6 de dezembro, diversas fontes, incluindo pessoas ligadas aos “vacadores”, afirmavam que a nova moção também não alcançaria os votos necessários. Enquanto isso, no círculo presidencial, trabalhava-se nos argumentos de defesa do presidente em relação à referida moção. De fato, em dias anteriores, surgiram rumores de golpe de Estado e foram ordenadas pelo menos duas mudanças no comando do Exército.
No entanto, pouco antes do meio-dia de 7 de dezembro, o presidente Pedro Castillo anunciou, em uma mensagem à nação transmitida pelo canal estatal, um conjunto de medidas para enfrentar “a nefasta tarefa obstrucionista da maioria dos congressistas”: • Dissolução “temporária” do Congresso da República. • Instituição de um “governo de emergência” excepcional que “governará por meio de decretos-lei”. • Convocação de eleições para um novo Congresso com poderes constituintes para “elaborar uma nova Constituição em um prazo não superior a nove meses”. • Toque de recolher em todo o país das 22h às 4h.
Esse anúncio foi divulgado pouco depois que Salatiel Marrufo, ex-chefe de gabinete do Ministério da Habitação, admitiu perante a Comissão de Fiscalização do Congresso da República ter recebido quatro milhões de soles em subornos da empresária de construção Sada Goray, dinheiro que teria chegado ao presidente Pedro Castillo por meio de Geiner Alvarado (ministro da Habitação), congressistas e jornalistas.
Existem várias “narrativas” sobre os eventos que levaram Pedro Castillo a decidir pelo surpreendente anúncio de 7 de dezembro às 11h. Todas concordam que ele não havia coordenado isso nem com seus assessores mais imediatos, nem com o Conselho de Ministros, nem com os partidos que o apoiavam até aquele momento. Afirma-se que Castillo chegou à conclusão de que seria deposto à tarde e que cabia a ele tomar a iniciativa, aproveitando o grande desprestígio do Congresso e a capacidade de mobilização daqueles que clamavam por seu fechamento. Algumas fontes indicam que ele contava com o apoio do Exército para um plano de fechamento. As versões diferem em relação a quem o encorajou a fazer seu discurso e com qual intenção. Mencionam-se reuniões, entre a noite anterior e a madrugada, com alguns porta-vozes das posições mais extremas do espectro “castillista”; assim como um planejado trabalho de contra-inteligência destinado a provocar essa decisão para facilitar a vacância. O papel desempenhado pelo efêmero ministro da Defesa, Emilio Bobbio Rosas, um militar aposentado que havia atuado como chefe de gabinete da Direção Nacional de Inteligência (DINI), que teve um papel nas campanhas da extrema direita contra Castillo nos meses anteriores e ao mesmo tempo afirmava ser amigo de Antauro Humala, também precisa ser esclarecido.
Após o anúncio presidencial, seguiram-se as renúncias de todos os ministros, bem como as condenações ou distanciamento de seus assessores imediatos e de todos os partidos com representação no Congresso. Aqueles que apoiavam Castillo foram considerados. Imediatamente, o presidente do Congresso, o ex-militar José Williams Zapata, antecipou a reunião do plenário para as 12h30. Entre as múltiplas expressões de repúdio à tentativa de golpe de Estado, destacou-se a de Dina Boluarte. A declaração do Comando Conjunto das Forças Armadas e da Polícia Nacional do Peru, por um lado, e a da Embaixada dos Estados Unidos, por outro, fecharam o cerco institucional em torno de Pedro Castillo.
Às 13h10, começou a sessão plenária do Congresso para debater e votar a destituição do presidente Castillo, desta vez acusado de impulsionar um golpe de Estado. Não houve necessidade de debate. A votação foi realizada imediatamente, em ordem alfabética e aberta. Em 30 minutos, a destituição de Pedro Castillo foi aprovada com 101 votos a favor, 6 contra e 10 abstenções. Membros de todas as bancadas votaram pela destituição, com exceções individuais. Após a votação, a Mesa Diretora do Congresso convocou a vice-presidente Dina Boluarte para assumir a presidência da República às 15h. A caminho da embaixada do México, Pedro Castillo foi detido e levado para uma dependência policial, onde o procurador-geral ordenou sua detenção preventiva para iniciar um processo preliminar por rebelião e conspiração, de acordo com o artigo 346 do Código Penal.
Dina Boluarte entrou na sede do Congresso da República às 15h30 para prestar juramento como presidente da República. Poucos minutos depois, os altos comandos das Forças Armadas e da Polícia também entraram. Quase às 16h, Boluarte assumiu a presidência da República e acrescentou à fórmula protocolar que ocuparia o cargo “desde este momento até 28 de julho de 2026”. Esse anúncio abriu várias frentes para o novo governo. Por um lado, para os setores que continuavam apoiando Castillo (31% da opinião pública nacional, de acordo com a pesquisa mais recente, e mais de 40% nas regiões sul e central do país), a imagem de Boluarte como traidora foi consolidada. Meses antes, ela havia afirmado que renunciaria se Castillo fosse destituído. Para a opinião pública mais ampla, isso contradizia o clamor generalizado de “que todos se vão”, já que o desprestígio do Congresso era muito maior do que o de Castillo. Em seu discurso subsequente, que durou menos de 10 minutos, Dina Boluarte anunciou: • Convocar um processo de diálogo entre todas as forças políticas representadas ou não no Congresso. • Retomar a reforma política.
Não ficou claro se ela ou os partidos no Congresso assumiram que se tratava de um governo de transição. O novo governo aspirava ser o executor de um projeto de médio prazo que rapidamente se mostraria autoritário, repressivo e “restaurador” do poder tradicional em todos os campos, desde o econômico até o ideológico-cultural. O discurso estava dirigido a agradar as bancadas do Congresso, especialmente a extrema direita, e os poderes fáticos que promoveram a destituição desde o início do mandato de Pedro Castillo.
Relatos confiáveis indicam que, devido à relutância de várias pessoas em se juntar ao novo governo, o gabinete foi formado lentamente e foi caracterizado por mediocridade, falta de experiência política e, em alguns casos, antecedentes obscuros de corrupção. Inicialmente, o gabinete foi liderado por Pedro Ángulo, ex-presidente da Ordem dos Advogados de Lima e ex-procurador do Ministério Público, além de ex-candidato presidencial do partido de Kuczynski. O gabinete demorou a ser concluído e empossado. Em menos de 10 dias, teve que enfrentar duas renúncias (Educação e Cultura) e a mudança de seu presidente: Ángulo saiu e Alberto Otárola, ministro da Defesa no gabinete de Ángulo e advogado pessoal de Dina Boluarte, assumiu o cargo.
O que levou a uma mudança de gabinete foi a mobilização social popular inédita, particularmente forte nas regiões sul e central do país, que rejeitou o golpe institucional e exigiu a saída de todos. As marchas foram violentamente reprimidas e resultaram em 21 mortes, entre 11 e 16 de dezembro. Em resposta a esses eventos, cujos detalhes são apresentados posteriormente, houve a mudança na liderança do gabinete e o anúncio da proposta de antecipação das eleições gerais para abril de 2024. Isso concedeu ao Congresso e ao novo governo mais 18 meses de vida, até julho de 2024.
O fato de o ministro da Defesa do primeiro gabinete se tornar presidente do Conselho de Ministros na segunda oportunidade foi uma clara expressão da vontade de conservar e endurecer a resposta à protesto popular. O prazo de mais de um ano para as eleições visava criar um cenário propício para avançar com as “reformas políticas” propostas pelas bancadas de direita (reeleição, bicameralidade, diversos mecanismos de veto a partidos e candidatos considerados “antissistema”), bem como a remoção das autoridades dos organismos eleitorais. Em 20 de dezembro, após negociações a portas fechadas, o Congresso aprovou a proposta do congressista fujimorista Hernando Guerra García para realizar as eleições em abril de 2024. Além disso, foi rejeitada a proposta de incluir uma consulta popular sobre a convocação de uma assembleia constituinte.
A resposta ao golpe: mobilizações sociais e cidadãs.
No mesmo dia, 7 de dezembro, começaram os protestos em todo o país. Em Lima, foi convocada uma marcha de apoio a Pedro Castillo diante da possibilidade de destituição. A mobilização ocorreu em novo contexto e houve confrontos com a polícia, que culminaram com a ocupação da Praça San Martín. Simultaneamente, foram realizadas assembleias autoconvocadas, especialmente nas principais cidades do sul e centro do país: Arequipa, Puno, Cusco, Abancay, Andahuaylas, Huancavelica e Huancayo. Também ocorreram ações em diversas províncias de Cajamarca. A partir do dia seguinte, foram iniciadas tomadas e bloqueios de estradas na Panamericana Sul e em trechos da Panamericana Norte. Destacou-se a participação dos trabalhadores da agroindústria, bem como dos mineiros informais em Atico e Nazca, no sul, e no vale de Virú, no norte.
Em algumas regiões, o conflito escalou e alcançou altos níveis de violência. A primeira região que ganhou notoriedade foi Apurímac. Andahuaylas, a partir de 9 de dezembro, foi cenário de massivas mobilizações e confrontos com a Polícia Nacional. O impacto da violência repressiva – 21 feridos em dois dias – contribuiu para a expansão do movimento. Em 11 de dezembro, o Comitê de Luta de Apurímac declarou insurgência popular e convocou uma greve indefinida a partir do dia seguinte. No contexto da greve, houve a ocupação e saque do aeroporto de Andahuaylas e o incêndio da delegacia de Huancabamba. Como resultado dos confrontos, houve duas mortes e 30 feridos. Nos dias seguintes, o número de mortos aumentou para seis. Diante disso, o governador regional de Apurímac pediu à presidente Dina Boluarte que antecipasse as eleições gerais, fechasse o Congresso e iniciasse um processo constituinte.
Outra região que foi palco de grandes mobilizações, ações violentas e dura repressão foi Ayacucho. Em 15 de dezembro, o Frente de Defesa (provavelmente o mais organizado do país) convocou uma assembleia cidadã. Após a realização massiva e ordenada da assembleia, grupos tentaram ocupar o aeroporto, mas foram violentamente reprimidos, resultando em oito mortes, a maioria delas por ferimentos a bala e algumas a vários quilômetros de distância do aeroporto. Também houve 52 feridos, de acordo com a Direção Regional de Saúde de Ayacucho. A população respondeu à repressão violenta ocupando e incendiando diversos prédios públicos. Dois manifestantes feridos morreram depois (nos dias 16 e 21, respectivamente).
Em Cusco, ocorreram mobilizações e confrontos, tanto na capital regional quanto em várias províncias. Em 14 de dezembro, uma tentativa de ocupação do aeroporto Velasco Astete foi duramente reprimida, resultando em duas mortes. No mesmo dia, em Espinar, a sede da prefeitura provincial foi atacada. A partir dessa data, o aeroporto foi fechado e o serviço de trens para Machu Picchu foi suspenso. Em La Convención, comunidades indígenas ocuparam a estação de bombeamento de gás natural em Kepashiato.
Em Arequipa, ocorreram mobilizações com várias convocações, especialmente nas vastas áreas periféricas da cidade. Em 12 de dezembro, cerca de 400 manifestantes ocuparam a pista de pouso do aeroporto. Como resultado do confronto com a polícia, Miguel Arcana morreu e houve 21 feridos. No mesmo dia, houve um ataque à planta de laticínios da empresa Gloria. Na mesma região, ocorreram bloqueios e tumultos na Panamericana Sul. Em 19 de dezembro, na área de Chala, distrito de Caravelí, Xavier Candamo Dasilva, um mineiro artesanal, morreu após ser atingido por balas de borracha. Em Puno, em suas três principais cidades – Puno, Juliaca e Ilave – houve grandes marchas desde o dia seguinte à destituição de Castillo. Como resultado das mobilizações, e sem mortes, o aeroporto de Juliaca foi fechado e a estrada que liga à Bolívia via Desaguadero foi bloqueada.
Em 14 de dezembro, três pessoas morreram durante o bloqueio de estradas em La Libertad. A primeira vítima morreu devido a um golpe de pedra; as outras duas, em acidentes de trânsito. Dois dias depois, no distrito de Pichanaki, Chanchamayo, na região de Junín, a Direção Regional de Saúde (Diresa) informou três mortes e 52 feridos (43 civis e 9 policiais) em confrontos ocorridos desde a madrugada na ponte que liga o distrito de Pichanaki ao anexo de Sangani. Um dos mortos, um jovem de 18 anos, levou um tiro na cabeça enquanto estava na porta de sua casa. Outro, um menor de 17 anos, foi baleado no abdômen e morreu enquanto estava com sua namorada e não participava da manifestação, de acordo com o relato de sua mãe.
Ações de bloqueio de vias de comunicação são um tipo de ação que tem se generalizado nos últimos anos no contexto dos conflitos sociais. Geralmente ocorrem quando as negociações entre organizações sociais, empresas e o Estado se complicam, como ocorreu no chamado corredor mineiro (Apurímac-Cusco) ou na Amazônia, nas áreas próximas aos rios que comunicam a região. Nesse caso, elas começaram no primeiro dia, com particular violência em torno dos aeroportos. Esse rápido aumento foi impulsionado tanto pela gravidade do fato e pela radicalidade da demanda (renúncia de Dina Boluarte, fechamento do Congresso) quanto pela percepção de que um dispositivo nacional de segurança estava sendo implementado nos dias que antecederam o Natal. Cinco aeroportos foram fechados ou tiveram suas operações suspensas: o aeroporto de Andahuaylas (11 de dezembro); o aeroporto Alfredo Rodríguez Ballón, de Arequipa; o aeroporto Tenente Alejandro Velasco Astete, de Cusco (12 de dezembro); o aeroporto de Juliaca (14 de dezembro) e o Alfredo Mendívil Duarte, de Ayacucho (15 de dezembro).
A partir da segunda metade de dezembro, delegações começaram a se deslocar dos distritos e províncias para as capitais das regiões e das regiões, especialmente do sul, para a cidade de Lima. Houve múltiplas demonstrações de solidariedade das comunidades por onde passaram os representantes, bem como nas cidades de destino. Foram organizados abrigos com recursos precários, cozinhas comunitárias, atendimento médico e apoio legal diante da ameaça de repressão – tal como, de fato, aconteceu na sede da Confederação Campesina do Peru (CCP), nas praças San Martín e Manco Cápac. Nas principais universidades públicas de Lima, foram observadas duas atitudes opostas em relação à possibilidade de acolher os manifestantes. Enquanto na Universidade Nacional de Engenharia foram abertas as portas para estudantes universitários do interior do país por decisão de seu reitor, Alfonso López Chau, na Universidade Nacional Mayor de San Marcos, a recepção promovida pelos estudantes foi abertamente confrontada pela reitora, que autorizou a violenta invasão do campus no início de 2023.
Comunicado de Imprensa Hoje, dia 25 de Julho, lançamos um filme curto em homenagem a Bruno Candé, ator português, que há três anos foi tragicamente assassinado por um ato de […]
Martim Moniz - Praça Martim Moniz
(sexta-feira, 4 agosto 19:00)
CONCENTRAÇÃO SEM PAPAS NA LÍNGUA
DIA 4 DE AGOSTO - MARTIM MONIZ
Apesar do esforço de todos os espaços - políticos e mediáticos - para criar um discurso único sobre a recepção da Jornada Mundial da Juventude - como se fosse meramente uma celebração religiosa -, não esquecemos que o objetivo deste evento é político, e que é através da ocupação do espaço público que a igreja continua a reafirmar o seu domínio.
A igreja católica continua vinculada à construção de poder e, através da intrusão de valores e normas, continua a exercer um controlo social e cultural na nossa sociedade. Os dogmas da religião interferem na construção do poder popular e no poder de decisão das comunidades marginalizadas - ao quererem privar-nos da liberdade e autonomia dos nossos corpos.
Com a imposição das suas hierarquias exigem-nos submissão.
Mas nós não esquecemos - nós somos a insubmissão.
Não esquecemos o papel da igreja no aprisionamento de pessoas que, em conjunto com o Estado, criou um castigo aparentemente moral, afastando-se dos bárbaros e públicos castigos da época medieval e remetendo-os para o oculto - criando a prisão. Prisão essa que diz "corrigir" todo e qualquer comportamento que infrinja a ordem pública.
Não sabíamos nós é que essa "correção" significaria 60 mortos por ano nas prisões portuguesas e trabalho escravo com reclusos a receber 2 a 3€ por dia, ou cêntimos para construir os confessionários para as Jornadas.
Enquanto os +500 músicos despejados se manifestam hoje no Porto contra o despejo do STOP, aproveitamos para relembrar a quem gosta de cinema e andava distraíde que Hollwood está parada, com 160 mil atores e 11 mil escritores em greve simultânea.
Desde 12/07 a SAG-AFTRA (Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists), sindicato que cobre trabalhadores da cultura, está a sustentar uma greve contra empresas como a Netflix, Warner Bros, Disney, Apple e Amazon, juntando-se ao Writers Guild, sindicato de escritores que tinha iniciado uma paralisação principalmente em protesto por causa do uso da Inteligência Artificial pelas empresas de entretenimento.
Os estúdios querem o direito a propôr contratos que lhes permitam digitalizar os corpos, as vozes e outras características de actores individuais, incluindo figurantes, e depois deter os direitos sobre as imagens de IA para sempre.
Os 11 mil escritores estão em piquete há mais de 70 dias, e sindicato, o Writers Guild of America, ainda não voltou a negociar com os estúdios.
A aposta dos estúdios aparentemente é esperar até ao fim do ano, deixar que a maior parte dos trabalhadores fiquem sem dinheiro para depois voltar a negociar para ditar os termos dos contratos.
A 20 de Junho, a Broadway “evitou” uma greve. A International Alliance of Theatrical Stage Employees (IATSE) apelou a uma votação de autorização de greve para os 1.500 membros do sindicato, que incluem ajudantes de palco, cabeleireiros e maquilhadores e departamentos de guarda-roupa, entre outros. A potencial greve poderia ter encerrado 41 produções já no dia 21 de julho.
O mundo do entertenimento está em tumulto!
Partilhamos uma notícia, já da semana passada da Democracy Now, onde o assunto é exposto:
Os actores de televisão e cinema estão a entrar em greve após um fracasso nas negociações entre o sindicato SAG-AFTRA e os estúdios de Hollywood. Mais de 160 000 membros do sindicato estão a participar na primeira grande greve de actores desde 1980. É também a primeira vez, desde 1960, que actores e argumentistas entram em greve ao mesmo tempo, com os membros do Writers Guild of America nos piquetes de greve desde o início de maio. Ambos os sindicatos afirmam que os salários não acompanharam o ritmo da era do streaming, e que mesmo as séries e os filmes de sucesso já não são garantia de um rendimento estável. Os grandes estúdios estão também a pressionar para a adoção de ferramentas de inteligência artificial que poderão incluir a digitalização da imagem dos actores para serem reutilizadas perpetuamente. “Parece haver um esforço concertado por parte destas empresas para tentar quebrar os sindicatos do entretenimento”, diz Shaan Sharma, membro da direção do SAG-AFTRA de Los Angeles e membro do comité de negociação.
NERMEEN SHAIKH: Os actores de televisão e cinema dirigem-se hoje para o piquete de greve, depois de a direção nacional do Screen Actors Guild ter votado unanimemente a favor da greve. A votação teve lugar depois de as conversações com um mediador federal, com o objetivo de chegar a um novo contrato de trabalho, terem falhado à última hora. Mais de 160.000 membros do sindicato estão a participar na primeira grande greve de actores desde 1980. A greve ocorre dois meses e meio depois de os argumentistas de Hollywood também terem abandonado o trabalho. Esta é a primeira vez desde 1960 que actores e argumentistas entram em greve ao mesmo tempo. Quando os actores se juntam aos argumentistas na linha de piquete, exigem melhores salários e protecções numa era em que os serviços de streaming dominam e a inteligência artificial ameaça a subsistência dos artistas.
A presidente do SAG-AFTRA, Fran Drescher, falou na quinta-feira.
FRAN DRESCHER: O que acontece aqui é importante, porque o que está a acontecer connosco está a acontecer em todos os campos de trabalho, quando os empregadores fazem de Wall Street e da ganância a sua prioridade e se esquecem dos colaboradores essenciais que fazem a máquina funcionar. …
Nós é que somos as vítimas. Estamos a ser vitimados por uma entidade muito gananciosa. Estou chocado com a forma como as pessoas com quem temos feito negócios nos estão a tratar. Não consigo acreditar, muito francamente, na distância que nos separa em tantas coisas, na forma como alegam pobreza, que estão a perder dinheiro a torto e a direito, quando dão centenas de milhões de dólares aos seus directores executivos. …
Todo o modelo de negócio foi alterado pelo streaming, pelo digital, pela IA. Este é um momento histórico que é um momento de verdade. Se não nos erguermos agora, vamos estar todos em apuros. Vamos todos correr o risco de sermos substituídos por máquinas. …
Não se pode mudar o modelo de negócio tanto quanto ele mudou, e não esperar que o contrato também mude. Não vamos continuar a fazer alterações incrementais num contrato que já não honra o que está a acontecer neste momento com este modelo de negócio que nos foi imposto. O que é que estamos a fazer? A mudar a mobília de lugar no Titanic? É uma loucura.
Portanto, a AMPTP está de pé. Estamos de pé. Têm de acordar e sentir o cheiro do café. Somos trabalhadores e estamos de pé. E exigimos respeito e que nos honrem pela nossa contribuição. Partilhem a riqueza, porque não podem existir sem nós. Obrigado.
AMY GOODMAN: Esta foi a Presidente do SAG-AFTRA, Fran Drescher, conhecida pelo seu papel na sitcom dos anos 90, The Nanny.
A Alliance of Motion Picture and Television Producers, que representa os principais produtores de televisão e cinema, acusou o sindicato dos actores de se afastar das negociações. Numa declaração, a AMPTP disse que a sua oferta incluía aumentos históricos de salário e de resíduos, bem como uma proposta de IA “inovadora” que protege a imagem digital dos actores.
Para falar mais sobre a greve, juntou-se a nós Shaan Sharma. Ele é um ator que faz parte do comité de negociação do SAG-AFTRA.
Uma nota de divulgação: Os funcionários do Democracy Now! são representados pelo SAG-AFTRA, mas estão abrangidos por um contrato sindical diferente do dos actores.
Shaan Sharma junta-se a nós de Salt Lake City, no Utah, onde tem estado a filmar a quarta temporada de The Chosen.
Shaan, bem-vindo ao Democracy Now! Se puderes responder, explica e elabora as razões desta greve. Quais são as reivindicações?
SHAAN SHARMA: Bem, antes de mais, não pedimos esta greve. Há mais de um mês que estamos a negociar de boa fé. Tivemos uma janela de negociação truncada no início, simplesmente por causa das negociações da Writers Guild e depois das negociações da Directors Guild, o que nos deu apenas três semanas. Apresentámos um pacote muito justo desde o início do processo. E tornou-se claro para nós muito rapidamente que os representantes dos nossos empregadores não estavam interessados em negociar connosco da mesma forma e estavam a empatar-nos. Concedemos uma prorrogação sem precedentes de 12 dias para continuarmos a negociar, que eles desperdiçaram, cancelaram reuniões e parece que foi apenas um estratagema para tentar promover os seus filmes de verão antes de saberem que acabaríamos por ter de entrar em greve, porque parece haver um esforço concertado por parte destas empresas para tentar quebrar os sindicatos do entretenimento. O DGA não lutou contra eles da mesma forma que o Writers Guild e agora o SAG-AFTRA. E, por isso, querem empobrecer-nos para nos obrigarem a aceitar um mau acordo.
NERMEEN SHAIKH: E, Shaan Sharma, pode explicar as preocupações em torno do streaming e da inteligência artificial?
SHAAN SHARMA: Bem, o streaming, claro, este é o primeiro ano em que o streaming se tornou a principal forma de as pessoas consumirem os seus media. E os nossos contratos foram concebidos para uma época muito diferente, com origem na televisão linear em redes de radiodifusão e cabo. Portanto, havia uma relação entre os programas que precisavam de captar audiências e vender publicidade, e nós teríamos uma participação numa espécie de cauda longa de receitas que é gerada tanto pela emissão inicial de um programa como pela sindicação de programas. Agora, com o streaming, livraram-se de qualquer uma dessas receitas baseadas no desempenho em que participamos, por uma taxa de subscrição que cobram, mas não partilhamos qualquer parte dessas receitas. Por isso, fomos espremidos e impedidos de participar numa forma importante de os nossos membros se sustentarem financeiramente.
Com a inteligência artificial, eles agora têm a tecnologia e estão a lutar para tentar alterar as propostas que temos para proteger os nossos membros. Tentaram reconfigurar e reescrever as propostas, que apenas pedimos para a proteção dos direitos humanos básicos, para tentarem ter o direito de nos digitalizar, de se apropriarem da nossa imagem para sempre, incluindo depois de morrermos, de nos usarem nos seus filmes sem qualquer consentimento, sem qualquer compensação para os nossos artistas, especialmente os artistas de fundo. É desumano. É distópico. E é muito assustador, porque acabámos de ver, através da pandemia, que os artistas intérpretes ajudam a nossa cultura a sobreviver, por exemplo, a uma emergência de saúde que ocorre uma vez numa geração ou uma vez na vida. E numa altura em que o nosso valor é mais claro do que nunca para a comunidade, parece que os nossos empregadores nos querem diminuir mais do que nunca.
NERMEEN SHAIKH: Bem, como mencionámos, a última vez que escritores e realizadores estiveram em greve foi em 1960. Nessa altura, só para dar uma ideia do quanto as coisas mudaram, é claro que não havia nem streaming nem inteligência artificial e Ronald Reagan era o presidente do SAG, que ainda não se tinha fundido com a AFTRA. Na altura, no final da greve, ambos os sindicatos tinham conseguido benefícios de saúde, pensões e resíduos de filmes. Poderia comentar esse facto e o que espera que possa resultar deste processo? Quando é que as conversações serão retomadas?
SHAAN SHARMA: Bem, não temos quaisquer conversações programadas para serem retomadas, porque acabámos de declarar a greve ontem. Há duas noites, sentámo-nos à frente dos representantes dos nossos empregadores e dissemos: “Estamos dispostos a negociar de boa fé, mas é evidente que não têm agido de boa fé”. A parte deles nas negociações fez ameaças contra os nossos membros, incluindo ameaças às nossas carreiras. Eles mentiram à imprensa. Divulgaram informações à imprensa para violar o nosso bloqueio mediático. Insultaram as crianças e os direitos das crianças nos cenários e nas suas contribuições para a saúde e para as pensões. Foi inconcebível o que testemunhámos. É como estar sentado à mesa do outro lado da sociopatia que parece estar a comandar a América empresarial hoje em dia, onde, aparentemente, os directores executivos podem receber bónus baseados no desempenho, mas os empregados que tornam tudo isso possível não. Por isso, é assustadora a situação com que nos deparamos. Por isso, não há conversações agendadas.
Quanto à década de 1960, eu não seria ator hoje se não fosse o plano de saúde que foi estabelecido a muito custo pelos sacrifícios dos nossos membros em 1960, incluindo a renúncia a todos os seus resíduos até essa altura para estabelecer os planos de pensões e de saúde de que desfrutamos até hoje. E esse plano de saúde tem sido esventrado pelos nossos empregadores ao longo dos últimos 40 anos, ao ponto de membros como o grande Ed Asner, que foi presidente do Screen Actors Guild, terem abdicado de todos os seus resíduos antes de 1960 para estabelecer o plano de saúde, para depois serem afastados dele aos 91 anos, quando o plano de saúde foi forçado a fazer alterações porque os nossos empregadores não melhoraram os limites máximos de contribuição para as pensões e para a saúde – os limites máximos de contribuição para as pensões e para a saúde que financiam os nossos planos de saúde. Portanto, estamos num momento existencial com a IA, mas também estamos num momento existencial para os direitos básicos dos cuidados de saúde e para a capacidade de fazer o que gostamos e de ter um rendimento de reforma depois de uma carreira próspera.
NERMEEN SHAIKH: Bem, Shaan, mencionou, claro, a América corporativa e a posição de CEOs proeminentes. Falemos do diretor executivo da Disney, Bob Iger, que apareceu na CNBC na segunda-feira e criticou o sindicato dos actores por ter convocado uma greve.
ROBERT IGER: Acho que é muito perturbador para mim. Falámos de forças disruptivas neste negócio e de todos os desafios que estamos a enfrentar e da recuperação da COVID, que está em curso. Não está completamente de volta. Esta é a pior altura do mundo para aumentar essa perturbação. … Há um nível de expetativa que eles têm que não é realista, e estão a acrescentar a um conjunto de desafios que este negócio já está a enfrentar e que é, francamente, muito perturbador.
DAVID FABER: Então não estão a ser realistas?
ROBERT IGER: – e perigosos. Não, não estão.
Porquê?
ROBERT IGER: Não posso – não posso – não posso responder a essa pergunta.
NERMEEN SHAIKH: Este foi o diretor executivo da Disney, Rob Iger, que ganha 27 milhões de dólares por ano. Estava a falar de Sun Valley, Idaho, onde está a participar numa reunião que foi descrita como um “campo de férias para bilionários”. Então, se puderes responder ao que ele diz? E também, explicar – sabe, as pessoas têm a sensação de que Hollywood tem tudo a ver com celebridades e enormes somas de dinheiro para os artistas, mas eu só quero citar o que o ator Danice Cabanela disse na quinta-feira. Ela disse: “É uma percentagem muito, muito pequena do sindicato de mais de 160.000 membros que pode realmente viver do trabalho que fazemos”.
Correto.
NERMEEN SHAIKH: Então, se pudesses falar sobre isso? Responder ao que disse o diretor-geral da Disney. E depois, de facto, quantas pessoas ganham um salário para viver da representação?
SHAAN SHARMA: Sim, a entrevista com o Bob foi incrivelmente triste para qualquer pessoa que trabalhe em entretenimento, e especialmente para aqueles de nós que criam o trabalho que permite que ele seja pago tão bem quanto ele é pago. É tão absurdo pensar que alguém como ele, que pode, sabe, receber tudo – penso que no seu contrato, ele vai receber um bónus de 500% do seu salário base com base no desempenho das acções da Disney, enquanto os artistas que dão valor à empresa, se recusam a permitir que participemos nas receitas que geramos para eles.
Nos últimos anos, estas empresas têm-se empenhado numa despesa absolutamente imprudente com a programação, tentando competir pelas assinaturas, e nós não participamos em nenhuma dessas receitas. E agora que se excederam e estão a começar a mudar para um modelo mais apoiado na publicidade, semelhante ao da televisão, estão a reclamar pobreza, simplesmente porque Wall Street não está a exigir crescimento, está a exigir rentabilidade. A culpa não é nossa. Nós somos os trabalhadores. Os riscos que estas empresas assumiram estão nas nossas costas.
E para ele nos dar um sermão sobre sermos perturbadores, eles perturbaram a vida de todos os nossos membros que estão a tentar ganhar a vida neste sector. É vergonhoso para ele dizer uma coisa dessas. Como disse o nosso presidente, a razão pela qual temos sindicatos é porque as pessoas não fazem o que é correto. E como alguém que fez a sua carreira no sector do entretenimento, ele devia saber que não deve ser condescendente com os artistas incríveis que dão valor à sua empresa. Por isso, não sei mais o que dizer sobre isso.
NERMEEN SHAIKH: Pode falar sobre a questão do pagamento das audições, que é exigido há mais de 86 anos mas nunca foi posto em prática?
SHAAN SHARMA: Bem, isso não é verdade. Nos primeiros tempos do nosso sindicato, toda a gente tinha contrato. Quase todos os nossos actores eram contratados pela MGM, Paramount, Disney, etc., o que significa que não só eram pagos pelas audições, como também recebiam um salário semanal. Também lhes eram dadas aulas de representação, de dança, de movimento, etc., uma grande formação clássica completa, porque éramos activos desses estúdios.
Quando a decisão sobre Olivia de Havilland pôs em causa esses contratos, esses sistemas de contratos, naquilo que costumava ser conhecido como o star system, o sistema de estrelas dos estúdios, começaram a acabar. Para os artistas independentes que não estavam sob contrato, tínhamos direito a uma compensação pelo trabalho criativo que colocávamos nas nossas audições. Mas agora, desde que o sistema de estrelas de estúdio desapareceu, praticamente nenhum de nós está sob contrato.
As disposições do nosso contrato relativas à remuneração das audições garantem que o trabalho criativo que colocamos no processo de pré-produção das produções, onde interpretamos efetivamente o material, os ajuda a ver a escrita de uma nova forma – o que leva a mudanças na narrativa. Por vezes, reescrevem o papel, reescrevem o guião. Assim, contribuímos com a nossa propriedade intelectual para o processo de pré-produção, e isso sempre foi suposto ser compensado.
Mas, atualmente, somos obrigados a suportar o fardo do processo de casting, porque já não fazem castings presenciais. Estão a obrigar-nos a gravar nas nossas próprias casas, utilizando os nossos amigos e familiares como mão de obra gratuita para estas audições, e esperam que façamos tudo isto sem qualquer compensação. Os nossos membros não sabiam que estas disposições constavam do nosso contrato, porque temos um problema de literacia contratual no nosso sindicato, em que os nossos membros não lêem e não são devidamente informados sobre os seus contratos. Estamos a mudar isso. Mas nada disso altera o facto de que não só estamos a fazer o trabalho técnico que o casting costumava fazer, como também estamos a fazer o trabalho criativo que sempre fizemos, e agora os nossos amigos e familiares estão a ser tratados como empregados gratuitos para os nossos empregadores, para lerem connosco nas nossas audições.
Assim, o pagamento das audições é uma forma muito importante de injectarmos quase mil milhões de dólares nos membros da classe trabalhadora do sindicato, que, a propósito da sua pergunta anterior, apenas 12,5% dos nossos membros têm direito a seguro de saúde. E o limite de qualificação para o seguro de saúde é de apenas 26.470 dólares. Isto significa que 87% dos nossos membros não ganham mais de 26.000 dólares por ano. E isso é chocante para os artistas, dos 170.000 artistas que temos e que fazem a maior parte do trabalho profissional para televisão e cinema que a AMPTP produz.
NERMEEN SHAIKH: Muito obrigada, Shaan Sharma. Shaan Sharma é ator e membro da comissão de negociação do SAG-AFTRA.
Casa da Achada - Centro Mário Dionísio - Rua da Achada 11, R/C, 1100-004 Lisboa, Portugal
(sábado, 22 julho 15:30)
Dia 22 de Julho o coletivo Vozes de Dentro volta à Casa da Achada. O evento contará com a mostra do documentário “Russa” que servirá de mote para uma conversa sobre o sistema prisional em Portugal e as várias formas de resistência e de apoio mútuo que o coletivo tem desenvolvido em conjunto com pessoas presas e as suas famílias. Teremos petiscos e refrescos, apareçam!